Vida e morte: cultura em Día de Los Muertos

Karine Zucolotto Biscaino, professora de Espanhol do Senac Ijuí

Vamos de clichê?! Certamente você já ouviu da mãe, do avô, ou mesmo do caixa de supermercado, a famigerada frase: “Só temos uma certeza na vida: a morte!”. Calma! O objetivo desse texto não é ser melancólico ou triste. É, sim, discorrer sobre a vida e a morte por meio de uma perspectiva cultural. Então, caro leitor, fique comigo até o fim (não leia como trocadilho, tá?!).

A morte é, sem dúvida, um grande mistério. Ela transita pelo imaginário de todos nós. Quem nunca pensou, nem que seja uma única vez, como seria morrer? Pois bem, eu sempre tive medo de morrer, sempre amei a vida, e foi na faculdade que comecei olhar para morte sob o viés cultural. Na disciplina de Literatura Latino-Americana I tive contato pela primeira vez com um “Dia dos Mortos” (Día de Los Muertos) de forma diferente, de modo que compreendi que os tabus, dogmas e até os medos existentes em relação a “de onde viemos” e “para onde vamos” estão relacionados à cultura de cada lugar.

Confesso que a priori fiquei surpresa ao perceber que poderia viver-se a morte. Isso mesmo, viver! Pareceu-me fantástico ver, mesmo que por meio do projetor da minha professora Mônica, os caminhos de luzes pelas cidades com destino aos cemitérios. Ver como as pessoas estavam felizes ao ir visitar seus mortos. Ali havia vida, apesar da saudade. Ali havia memória. Então, compartilho aqui, leitor, um pouco do que aprendi.

O Día de Los Muertos é uma data comemorativa (sim, leste certo. Co-me-mo-ra-ti-va) que acontece todos anos nos dias 1 e 2 de novembro no México e alguns países da América Central, como Guatemala, El Salvador e Honduras.

Mexico City, Mexico. Dia de Los Muertos.
Mexico City, Mexico. Dia de Los Muertos.

É uma tradição que celebra a vida e a morte, uma vez que essas sociedades preservaram as origens Astecas e Maias e esses povos, por sua vez, celebravam a vida de ancestrais, fazendo festividades por meio de oferendas e farturas de comida. Crê-se que, nesses dias de celebração, os falecidos retornam do túmulo.

Ou seja, é a época do ano em que os mortos visitam os vivos. E receber visita é sempre motivo de alegria! Por isso é característico haver muita comida, bebida, flores e altares enfeitados com fotos daqueles que já não estão mais entre os vivos.

é característico haver muita comida, bebida, flores e altares enfeitados com fotos daqueles que já não estão mais entre os vivos.
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Para além disso, há as famosas Calaveras, as caveiras decoradas artisticamente. Inicialmente, utilizavam-se crânios reais! Mas, ao longo dos séculos, foram adaptados para imagens simbólicas de caveiras.

Calaveras Mexicanas
Mexican Calavera

É muito comum associar El Día de los Muertos ao muito conhecido Dia das Bruxas (Halloween), e isso dá-se devido aos rostos pintados com as caveiras. No entanto, é importante deixar claro que são coisas muito diferentes. Acontece que, por meio da imagem representativa do crânio, são produzidos materiais escritos como poemas, críticas sociais e sátiras, assim como doces decorados repletos de açúcar, e as pessoas pintam os rostos como símbolo de alegria.

A caveira representa os mortos e é um verdadeiro símbolo da festa! Outra confusão que se dá é com a data do Dia de Finados que ocorre, por exemplo, aqui no Brasil. Data essa celebrada pela igreja Católica. Porém, enquanto na primeira tem-se uma festividade, a segunda trata-se de algo também para recordar dos mortos, mas de uma maneira mais melancólica, introspectiva e até mesmo triste.

Meus caros, espero que, de alguma forma, eu os tenha instigado a conhecer essa cultura. Como professora eu constantemente trabalho essa temática em minhas aulas e sempre é um sucesso, não importa a idade. Via de regra, trabalho a partir de alguns filmes que ilustram com muita delicadeza o assunto e, para não perder o costume de “profe”, deixo registrado aqui alguns títulos, caso queiram ver com seus próprios olhos as cores e a vida em Día de Los Muertos:

_Festa no Céu (animação)

_Viva – A Vida é uma Festa (animação)

_O Dia dos Mortos ( curta metragem), México 24 mm ( curta- documentário).

Para além do audiovisual registro outra obra que vale a pena buscar: Sueño de una tarde dominical en la Alameda Central. Essa é um mural pintado por Diego Rivera, pintor mexicano que foi casado com uma das maiores artistas mexicanas, quiçá do mundo, Frida Kahlo. Olha aí…já ia eu falar de outro assunto, então encerro por aqui pois, apesar da vida e da morte de Frida Kahlo ser muito interessante, é um assunto que demanda outro texto.

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