Como organizar as finanças pessoais em tempos de coronavírus?
O ano de 2020 começou marcado por uma expectativa positiva no Brasil, com previsão de crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) em mais de 2%. Mas, como bem sabemos, o planejamento nem sempre se confirma na realidade. Tudo mudou no mês de março quando o número de casos de Covid-19 no Brasil e no mundo dispararam e as pessoas foram orientadas a ficarem nas suas casas. De um cenário de expectativa positiva passamos para um momento de incertezas. E as contas da casa como ficam? Como organizar as finanças pessoais durante a pandemia de coronavírus?
A economista-chefe da Fecomércio-RS, Patrícia Palermo, compartilhou dicas fundamentais para quem precisa equilibrar as despesas neste momento e não tem tempo a perder.
Nova renda pede uma nova realidade de gastos
Parece óbvio, mas é sempre bom lembrar: quem teve redução ou perda de renda precisa adequar os seus gastos à realidade. É um momento de incertezas e não sabemos por quanto tempo a situação permanecerá dessa forma. Alguns pesquisadores indicam que teremos quarentenas intermitentes, com períodos de isolamento social, até que seja desenvolvida a vacina ou a cura da Covid-19.
Por isso é essencial parar e analisar as escolhas financeiras, evitando a geração de problemas permanentes lá no futuro. Temos que adaptar nossa renda ao contexto atual e, principalmente, adaptar os gastos.Veja como:
1) Tenha consciência da sua nova condição de renda
O primeiro ponto parece uma orientação básica, mas é fundamental. Você precisa ter na ponta da língua: qual a renda de que disponho neste momento?
As pessoas que foram demitidas terão acesso tanto às verbas rescisórias quanto ao seguro desemprego. Então, o primeiro passo é entender: quantas parcelas do seguro estarão disponíveis? Essas parcelas representam quanto em relação à renda anterior? É preciso ter essa noção muito clara.
Já os funcionários das empresas que optaram pela redução de carga horária e de salário terão uma complementação de renda do governo, conforme abaixo:
– redução inferior a 25%: não há direito ao benefício emergencial;
– redução igual ou maior que 25% e menor que 50%: benefício emergencial no valor de 25% do seguro desemprego;
– redução igual ou maior que 50% e menor que 70%: benefício emergencial no valor de 50% do seguro desemprego; e
– redução igual ou superior a 70%: benefício emergencial no valor de 70% do seguro desemprego.
Enfim, descubra os números da sua nova realidade e tome nota.
2) Coloque no papel todos os seus gastos
Não confie na memória. Após ter anotado a sua nova realidade de renda, anote os seus gastos da seguinte maneira:
a) Em uma lista, coloque aquilo que você julga como gastos essenciais, conforme a sua realidade e o que acredita ser muito difícil de cortar.
b) Ao lado, faça uma lista dos gastos que considera supérfluos e/ou que você acredita ter uma capacidade maior de redução.
Anotou? Então agora preste atenção no quanto os tais gastos essenciais já tomam conta da sua renda atual. Se a sua nova realidade for de R$ 2 mil e os gastos essenciais já chegam a R$ 1800, isso significa que sobram apenas R$ 200 para gastos supérfluos. Diante disso, pergunte-se novamente: será que esse essencial é mesmo essencial? Avalie novamente se é possível fazer uma nova redução.
3) Chame a família para fazer a avaliação dos gastos em conjunto
A nova realidade de renda não é válida apenas para você, mas para todos da sua família. Por isso todos têm que fazer a sua pequena dose de sacrifício. Ao longo do tempo, vamos acostumando a ter mais conforto e sabemos o quanto é difícil ajustar o padrão de vida para baixo. Contudo é necessário abrir mão de algumas comodidades que não cabem na sua renda atualmente, para que isso não gere um problema maior no futuro.
Faça essa avaliação em conjunto com a sua família. Observe a fatura do cartão de crédito e veja como pequenos gastos, somados, acabam tomando conta do orçamento.
4) Entenda a diferença entre corte de gastos e controle de gastos
Cortar gastos é justamente o que falamos até agora: estabelecer novas prioridades. Já controlar os gastos é evitar cair em tentações cotidianas.
Uma dica bem simples é reservar o que chamamos de “fundo para deslizes”. Se você já sabe que, depois de pagar as contas, ainda vai sobrar um dinheiro e que você sempre acaba se presenteando com algo além do que previu, reserve um dinheiro para esses gastos extras. Aliás, separe essa sobra entre reserva para “deslizes” e reserva de emergência. Já que vai gastar algo fora do plano, a ideia é que você planeje até esse gasto não planejado.
5) Como criar uma folga temporária na renda e ter um alívio imediato nas finanças
Criar uma folga temporária na renda pode dar um bom fôlego neste momento. Mas como fazer isso?
a) Pausa no financiamento
Uma alternativa é dar uma pausa em algum tipo de financiamento, o que não significa simplesmente deixar de pagar sem contatar o credor. Muitos bancos estão dando a opção de, por meio do próprio aplicativo, solicitar uma pausa do financiamento imobiliário, por exemplo. Essa solicitação é analisada e, caso aprovada, as parcelas são postergadas. Por mais que corram juros, na maioria dos casos são juros bem baixos para esse tipo de financiamento.
E se você ainda não tem uma reserva de emergência, essa pode ser uma possibilidade de montar uma: essas parcelas que você deixa de pagar neste momento podem ser destinadas para a sua reserva de emergência. Assim, você garante um valor que pode ser disposto de forma imediata, caso precise.
b) Saque do FGTS
O governo federal liberou o saque R$ 1.045 do FGTS a partir de junho. Os saques serão efetuados conforme cronograma de atendimento e critérios estabelecidos pela Caixa Federal. Mas lembre-se de fazer uso inteligente desse valor.
c) Consolidação das dívidas
Resumidamente, significa trocar vários débitos por um único, por meio de um empréstimo pessoal. Faça um levantamento de todas as suas dívidas e avalie as mais caras, como cartão de crédito e cheque especial. Com isso, veja a possibilidade de fazer um empréstimo pessoal para quitar todas essas dívidas com juros altos. A ideia é que você tenha, ao fim, uma única dívida consolidada, com um único credor.
6) Crie uma reserva de emergência
Precisamos entender que não é o que ganhamos que determina a nossa capacidade de poupar, mas sim o quanto gastamos. A maioria das pessoas não têm o controle sobre o que elas ganham, não decidem o seu salário, no entanto elas podem e devem controlar o que irão gastar. Tem momentos em que temos que avaliar se o nosso padrão de vida não está além do que podemos sustentar.
Faça essa avaliação e busque organizar a sua reserva de emergência. Algumas pessoas enxergam a poupança como um sacrifício, algo impossível, mas vale destacar que ela garante o que mais buscamos: a tranquilidade e a segurança financeira.
Dúvida: quanto de dinheiro eu preciso ter na reserva de emergência?
Caso você seja uma pessoa com renda garantida, estável (como CLT), a reserva de emergência deve cobrir três meses dos seus gastos habituais. Já se você é um trabalhador autônomo, com renda variável, essa reserva deveria cobrir seis meses desses gastos.
É essencial que esse valor fique em um lugar seguro e de fácil acesso. Quando falamos da reserva de emergência falamos em abrir mão da rentabilidade, mas garantindo a liquidez (facilidade de um ativo se tornar dinheiro, sem considerável perda de valor).
7) Por último, evite golpes e roubadas financeiras
Neste momento, muita gente busca uma rentabilidade rápida e sem correr riscos. Contudo é preciso entender que rentabilidades maiores são acompanhadas de riscos maiores. Por isso, precisamos diferenciar uma possibilidade de negócio de uma pirâmide. Não caia em promessas de dinheiro fácil em um curto espaço de tempo.
Ademais, cuide com a bondade desmedida: evite emprestar o seu nome ou o seu cartão de crédito para terceiros. O seu nome e a sua adimplência no mercado são os bens mais preciosos quando falamos em finanças saudáveis e segurança.
Lembre-se: vai passar
Não sabemos quando, mas tudo isso vai passar. Enquanto vivemos essa situação, é fundamental mantermos a calma e não tomarmos nenhuma decisão com base no desespero. Organize suas contas e não crie um problema maior para o futuro.
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