Sustentabilidade na moda: a importância dos cursos do Senac
A indústria da moda é uma das que mais impactam o meio ambiente, tanto pelo alto consumo de recursos naturais, como água e energia, quanto pela geração de resíduos têxteis e emissão de gases de efeito estufa. No post de hoje, te contamos como os cursos do Senac-RS destacam a importância da sustentabilidade na moda.

Sustentabilidade na moda
Conforme destaca o coordenador dos cursos de Moda do Senac Canoas, Ramon Rodolfo, o modelo atual de produção e consumo (conhecido como “fast fashion”) incentiva a compra excessiva e o descarte rápido das roupas, agravando problemas como a poluição e o descarte inadequado de tecidos e materiais sintéticos.
Para explicar melhor a questão, Rodolfo apresenta alguns dados importantes:
A produção de uma camiseta de algodão pode consumir cerca de 2.700 litros de água (desde o plantio do algodão até a finalização da peça, sem mensurar as lavagens após a compra). Isso é o equivalente ao que uma pessoa bebe em 2 anos e meio de água.
A indústria têxtil é responsável por cerca de 20% do desperdício global de água na produção.
A indústria da moda é responsável por 8% a 10% das emissões globais de CO₂ — mais do que os setores de aviação e transporte marítimo juntos.
Cerca de 92 milhões de toneladas de resíduos têxteis são descartadas por ano no mundo.
Estima-se que, a cada segundo, o equivalente a um caminhão de lixo têxtil é incinerado ou vai para o aterro sanitário.
Afinal, o que é moda sustentável?

Moda sustentável é um conceito que busca alinhar a produção, o consumo e o descarte de roupas com práticas que respeitem o meio ambiente, os direitos humanos e a responsabilidade social. “Entre essas práticas, destacam-se o upcycling, que transforma peças usadas em novos produtos com valor agregado; o uso de materiais ecológicos, como tecidos orgânicos, reciclados ou biodegradáveis; e a economia circular, que propõe ciclos de vida mais longos para as roupas, com reutilização, conserto e reciclagem”, exemplifica Rodolfo.
Além dessas abordagens, outras estratégias vêm ganhando espaço no movimento por uma moda mais consciente. De acordo com o especialista, o slow fashion, por exemplo, valoriza a produção em menor escala, com qualidade, atemporalidade e respeito ao tempo de cada etapa do processo. “A moda ética coloca no centro a dignidade e o bem-estar das pessoas envolvidas na cadeia produtiva, promovendo condições justas de trabalho (um dos conceitos iniciais do Fashion Revolution). Já a moda regenerativa propõe um passo além da sustentabilidade, buscando restaurar ecossistemas e fortalecer comunidades por meio de práticas agrícolas e de produção que regeneram o solo e a biodiversidade”, conta.
Iniciativas inovadoras
Ramon Rodolfo afirma que outras iniciativas inovadoras incluem a moda local, que reduz a pegada de carbono ao incentivar o consumo e a produção próximos do consumidor; o aluguel de roupas, que estende o tempo de vida útil das peças; o design para desmontagem, que facilita o reaproveitamento e a reciclagem; e até a moda digital, que oferece alternativas virtuais ao consumo físico de vestuário.
“Essas ações mostram que a moda pode ser um agente de transformação, contribuindo não apenas para a redução de impactos ambientais, mas também para a construção de uma cadeia produtiva mais ética, diversa e consciente”, enfatiza.
Tendência de consumo consciente entre as novas gerações
As novas gerações, especialmente os jovens da Geração Z, têm demonstrado uma postura mais crítica e responsável em relação ao consumo. “Eles buscam conhecer a origem das roupas, quem as produziu e sob quais condições, além de valorizar marcas que adotam práticas éticas e sustentáveis. O consumo consciente deixa de ser apenas uma tendência e passa a ser uma exigência para o futuro da moda, pautado por valores como transparência, propósito e responsabilidade ambiental”, destaca Rodolfo.
O especialista acredita que essa consciência se intensifica porque esses jovens já cresceram em um planeta marcado pelas consequências da crise ambiental. Diferente de gerações anteriores, eles vivenciam os efeitos concretos das mudanças climáticas, da escassez de recursos naturais e da degradação ambiental no seu cotidiano. “Desde a escola, estão em contato com conteúdo sobre ecologia, sustentabilidade e impactos humanos na Terra, o que os torna mais sensíveis e engajados com a pauta ambiental. Além disso, eles são constantemente expostos — pelas mídias, escolas e redes sociais — a discursos que reforçam a urgência de reverter (ou ao menos minimizar) os danos causados ao planeta, o que reforça o senso de responsabilidade coletiva e pessoal”, diz.
Nesse contexto, a moda deixa de ser apenas estética e passa a ser uma forma de expressão política, cultural e ambiental. Consumir de forma consciente é, para essa geração, uma escolha alinhada com o futuro que desejam construir.
Sustentabilidade na moda veio para ficar
Essa relação mais profunda com a moda também se revela na forma como os jovens utilizam o vestir como linguagem. Para além do consumo consciente, muitos deles veem a moda como um manifesto pessoal e coletivo, capaz de comunicar posicionamentos sociais, culturais e políticos. Rodolfo afirma que as roupas deixam de ser apenas objetos de desejo ou tendência, e passam a carregar significados. Usar uma peça é também dizer algo. “E esta geração veste o que acredita. Por meio de escolhas estéticas, símbolos, frases ou da própria forma como combinam e reaproveitam peças, os jovens expressam suas causas — como o feminismo, os direitos LGBTQIAPN+, o antirracismo, o respeito ao meio ambiente ou a crítica ao sistema de consumo acelerado. Esta moda chamada de ‘moda manifesto’ é um território onde eles se posicionam sem precisar dizer uma palavra. Eles afirmam suas identidades, suas inquietações e suas visões de mundo”, analisa.
Práticas como o upcycling, a customização de roupas antigas ou a criação de marcas independentes com discurso político revelam um comportamento mais autoral, criativo e engajado. Nesse cenário, a moda se torna não apenas um reflexo do tempo em que vivemos, mas também uma ferramenta ativa para construir os caminhos de um futuro mais justo, diverso e sustentável.
Sustentabilidade na moda: como o tema está inserido nos currículos do Senac
Nos cursos de Moda do Senac, a sustentabilidade é uma preocupação. Presente de forma estruturada e planejada, é integrada nos planos de curso tanto como tema transversal quanto em disciplinas ou momentos específicos. Desde o início, os estudantes são incentivados a refletir sobre os impactos ambientais de suas criações e a desenvolver soluções mais conscientes. Isso inclui a redução do desperdício de materiais, a escolha de tecidos e insumos sustentáveis. Além disso, acontece o reaproveitamento criativo das sobras geradas em sala de aula.
“Essa abordagem faz parte do compromisso do Senac com a formação de profissionais preparados para atuar com responsabilidade socioambiental, respeitando e valorizando o meio ambiente. Nossos planos de curso já preveem práticas que orientam o descarte correto e o reaproveitamento das sobras têxteis. Assim, promovemos um ciclo de aprendizagem que une teoria e prática sustentável”, diz o coordenador.
Um exemplo prático dessa filosofia da sustentabilidade na moda é o projeto “Novo de Novo”. A iniciativa é realizada com as turmas de Técnicas de Costura e Modelagem para Peças do Vestuário no Senac Canoas. Neste projeto, os alunos foram desafiados a recriar peças a partir de roupas usadas. Eles aplicam a técnica de upcycling, que transforma resíduos têxteis em novas peças de valor e design exclusivo.
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Para refletirmos sobre sustentabilidade na moda
Rodolfo propõe uma reflexão. De que forma é possível adotar práticas de consumo de moda sustentável em um cenário onde o custo de vida está cada vez mais alto? Ainda mais considerando que, muitas vezes, as peças sustentáveis possuem (ou aparentam) preços elevados?
O especialista afirma que consumir moda sustentável em um mundo cada vez mais caro pode parecer um desafio. Especialmente porque as peças produzidas com critérios socioambientais frequentemente têm preços mais elevados. “No entanto, é fundamental repensar nossa relação com o consumo para além do valor imediato das roupas. A sustentabilidade na moda não significa apenas escolher peças caras, mas sim adotar uma postura de consumo consciente. O objetivo é privilegiar a qualidade, a durabilidade e o respeito ao meio ambiente e às pessoas envolvidas na cadeia produtiva”, pondera.
Rodolfo aponta que, em vez de acumular muitas peças de baixa qualidade e curta vida útil, a valorização de roupas atemporais, versáteis e feitas para durar reduz a necessidade de compras frequentes. Ou seja, no longo prazo, isso representa uma economia real e menor impacto ambiental. Outro caminho para driblar os custos é a moda circular. Trata-se do incentivo do uso de brechós, trocas e o aluguel de roupas, estratégias que democratizam o acesso a peças sustentáveis e inovadoras. Também é importante apoiar marcas locais e iniciativas que priorizam a produção ética e regional, reduzindo custos logísticos e impactos ambientais associados ao transporte.
“Por fim, educar para o consumo responsável é essencial: precisamos compreender o real custo da moda rápida. Assim, mesmo diante da alta do custo de vida, podemos construir um novo paradigma de moda que valorize o meio ambiente e as pessoas. Isso torna a sustentabilidade uma escolha acessível e necessária para todos”, conclui.