Dia do Professor: chef Mamadou Sène trabalha como docente há 23 anos no Senac-RS
A data de 15 de outubro é especial para o Senac-RS. O Dia do Professor é dia de destacar, ainda mais, o trabalho de quem se dedica a mudar a vida das pessoas por meio da educação. Afinal, são os professores que fazem possível a missão do Senac-RS de “educar para o trabalho em atividades de comércio de bens, serviços e turismo.”
Um docente muito especial e admirado pelos alunos faz parte da história da nossa instituição e se dedica, há 23 anos, à educação na área da Gastronomia: é o chef senegalês Mamadou Sène, o professor que está há mais tempo no Senac-RS e que já formou mais de mil pessoas na instituição.
Desejo de ser professor antes de conhecer a Gastronomia
Antes mesmo de ser cozinheiro e chef, o que muita gente não sabe é que Mamadou Sène já queria ser professor, mas não de Gastronomia. Mamadou estava cursando História na Université Cheikh Anta Diop de Dakar (capital do Senegal) mas, no último ano, em 1976, resolveu dedicar-se à Hotelaria e Turismo. “Dakar é uma cidade com muitos museus e cultura. Muito próxima também à Ilha de Goreia, local de onde saíram milhões de escravos para as Américas”, conta ele, destacando o interesse na história de seu país desde sempre.
Depois de deixar a faculdade de História, Mamadou trabalhou por um período como guia de turismo, mas foi na Gastronomia que encontrou sua vocação. Frequentou o curso de cozinha e hotelaria da École Hotelière de Dakar e ganhou uma bolsa para estudar na cidade de Chambery (entre França e Suíça), terminando seus estudos em Nice, na França.
Já formado em Gastronomia, voltou para o Senegal onde começou a trabalhar em uma rede francesa de hotéis. “Foi através dessa rede que eu morei em 20 países. Fazia uma temporada em cada lugar, de 4 a 5 meses. Trabalhei em lugares como Marrocos, Emirados Árabes, Itália e Taiti. Fiquei circulando pelo mundo”. A propósito, Mamadou tem histórias incríveis oriundas dessa experiência: além de falar 5 línguas (francês, inglês, árabe, português e wolof), já cozinhou para o rei Mohamed V de Marrocos, no Hotel Casablanca, no mesmo país.
Mas não foi por meio dessa rede que ele conheceu o Brasil. No ano de 1978, após ter voltado para o Senegal, Mamadou tinha a incumbência de preparar um jantar brasileiro para membros da Embaixada do Brasil em seu país: uma feijoada típica para comemorar o dia 7 de setembro. A missão era preparar o prato para ninguém além do diplomata, poeta e escritor João Cabral de Melo Neto, autor de obras reconhecidas como Morte Vida Severina.
“Eu nunca tinha feito feijoada antes mas estudei muito, treinei várias vezes. No dia, após servir o jantar, João Cabral de Melo Neto e a esposa foram até a cozinha, elogiaram muito o prato e conversamos sobre a contribuição da culinária africana para a brasileira”, lembra Mamadou.
Vinda ao Brasil
Foi João Cabral de Melo Neto quem ofereceu para Mamadou, em 1978, uma bolsa para estudar a culinária brasileira, em nosso país. “Cheguei no Brasil em 9 de fevereiro de 1979, no Senac Águas de São Pedro (São Paulo). Estudei lá entre fevereiro de 1979 e março de 1980 e então decidi ficar mais tempo para aprender sobre a culinária mineira e baiana. Logo me encaminharam para o hotel do Senac em Barbacena, em Minas Gerais, e depois fui para a Bahia, onde fiquei mais 6 meses”.
Foi no ano de 1980 que o chef decidiu, de fato, criar raízes no Brasil. “Comecei a dar aulas de culinária francesa no Senac-SP. Também tinha amigos no Guarujá, que me convidaram para trabalhar em um hotel, onde eu conheci o fundador da Aplub (Associação dos Profissionais Liberais Universitários do Brasil).
Por meio da Aplub, Mamadou chegou a Porto Alegre: veio para cá em maio de 1983 para trabalhar no restaurante da diretoria da instituição, permanecendo como chef de cozinha até 1996 no local. Finalmente, em 1997, Mamadou inicia sua jornada no Senac-RS, mais especificamente no restaurante da Praça da Matriz, onde ficou até 2001. Ao mesmo tempo que trabalhava no restaurante, também ministrava aulas de culinária francesa no Senac da Coronel Genuíno.
Mamadou ficou de 2001 a 2002 no Sesc Campestre e retornou para a docência em 2003, para reestruturar o curso de Gastronomia do Senac em Porto Alegre, onde permanece até hoje como docente na unidade localizada na Coronel Genuíno (Faculdade Senac Porto Alegre). “O Brasil foi o lugar onde eu mais morei, até mesmo mais do que no meu próprio país. Por muito tempo, fui o único senegalês aqui no Rio Grande do Sul e, de forma geral, por muito tempo tiveram poucos senegaleses no Brasil como um todo”, destaca ele.
Sobre ser professor
O fato é que Mamadou soma mais de 40 anos de experiência na Gastronomia, sendo 23 anos dentro do Senac-RS. “Muitos colegas e amigos me falavam que, se eu me dedicasse apenas ao ensino, iria perder reconhecimento como chef. Mas é muito pelo contrário – é muito gratificante saber que eu formei mais de mil alunos, pessoas que estão em vários lugares do Brasil e até no exterior e que eu tive a honra de ser professor. Não há nada que pague isso, e encontrar essas pessoas, saber suas histórias me dá, cada vez mais, ânimo e vontade de compartilhar experiência onde eu vou”.
O chef conta que lembra de todos os seus alunos, talvez nem sempre recorde o nome, mas grava a fisionomia. Aliás ele relata feliz que, recentemente, um ex-aluno ligou para ele pedindo uma receita antiga: “um aluno que agora mora em Sydney me ligou às 3h da manhã de lá para me pedir uma receita que eu fiz em aula no ano de 2003”. Quando perguntado se Mamadou lembrava da receita, ele afirma: “Claro! Está tudo aqui, na caixola”.
Mensagem aos alunos
Não é só de técnica que vive um profissional – essa é a principal mensagem que o professor tenta passar em suas aulas. “Eu sempre falo para os meus alunos serem humildes e sempre buscarem o conhecimento. Não só para eles dominarem as técnicas, mas serem gente. Também há muita pressão na área e a pessoa tem que ter a cabeça no lugar para passar por esses contratempos que acontecem na nossa vida profissional”.
“Eu sempre falo para os meus alunos serem humildes e sempre buscarem o conhecimento.”
Sobre ser professor, ele ainda complementa: “cada dia me sinto com mais vontade de dar aula, compartilhar conhecimento. O que eu tento deixar de mensagem para as pessoas é que busquem fazer com amor o seu trabalho. Tem que gostar do que faz, pois quando se gosta do que faz vira um prazer”, conclui. Quem conhece o chef Mamadou sabe que o discurso sobre fazer com amor e dedicação é condizente com a prática e que o professor, ainda que com mais de 20 anos na docência, consegue inspirar novos cozinheiros a cada ano dentro do Senac-RS e fora dele. Não há, de fato, limites para o conhecimento e fronteiras para docentes tão dedicados.
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