Mitos e verdades sobre vinhos

Assim como política e futebol todos sempre têm uma opinião formada sobre o mundo dos vinhos. Algumas são procedentes, outras são passadas adiante com tanta convicção que até parecem ser verdade. Não é de se admirar, já que este é um universo carregado de rituais, mistérios e regras. Pois bem, vamos quebrar alguns paradigmas?  Veja os mitos e verdades sobre vinhos.

A docente do curso de Sommelier do Senac Bento Gonçalves, Patrícia Cardoso, é quem elencou os maiores mitos sobre o mundo dos vinhos. Confira com atenção, pois Patrícia é sommelier profissional com certificação nível 3 pela Wine & Spirit Education Trust, de Londres: 

Vinho bom é vinho caro 

Sim e não. Sempre esperamos que um vinho “caro” seja bom, afinal ele tem essa obrigação, mas nem sempre isso é real. A produção de vinhos é cara pois são anos de espera pela melhor resposta do vinhedo, do clima, da melhor condição do solo. Há o processo de fermentação, PH, aromas, sabores, tempo de envelhecimento, trabalho do enólogo. Não é uma bebida rápida de ser produzida e as vinícolas dependem muito do resultado da natureza. Quando esta não ajuda, o trabalho de lapidação é demorado e dispendioso. Se considerarmos tudo isso, obviamente não podemos esperar que um vinho “baratíssimo” seja magnífico, até porque existem custos mínimos para o vinho mais simples ir para a gôndola. 

Agora vamos a uma verdade: existem bons vinhos com ótimo custo benefício, ou seja, o famoso bom e barato. Isso porque a produção pode ter sido abundante, o clima pode ter ajudado, a uva maturou muito bem, o resultado de um vinhedo jovem foi melhor do que o esperado; o produtor quis mostrar seu potencial de trabalho em um vinho de entrada. O fato é que, se o vitivinicultor investiu na matéria-prima e a uva apresentou boa qualidade, certamente teremos um vinho bem feito, sem defeitos e ótimo para o consumo imediato. É o chamado vinho “honesto”, lê-se vinho bom, simples e que não pesa no nosso bolso. 

Quanto mais velho, melhor 

Depende. Você quer esperar anos a fio para beber um vinho que precisa de tempo de envelhecimento? Esses são os chamados vinhos de guarda: BarolosBrunellos, grandes vinhos de Bordeaux. Nesse caso, realmente eles melhoram com os anos – mais elegantes, com taninos (compostos naturais, também conhecidos como polifenóis, que existem no interior de cascas de uvas, sementes e caules) mais domados pelo tempo e são espetaculares. Assim como nós, o vinho possui um ciclo de vida passando pela infância, maturidade, velhice e morte. No seu ápice de maturidade, adquire um equilíbrio perfeito entre taninos e o buquê de aromas adquirido com o tempo. É o chamado “tempo de evolução”.  

Um vinho branco, um rosé: quanto mais velho melhor?  

Diferentes tipos de vinhos

Com exceção dos grandes brancos da Borgonha na França, provavelmente não. Vinhos brancos devem ser consumidos jovens devido ao seu frescor, acidez, aromas vivos, assim como os espumantes. Quantos aos vinhos tintos, muitos são produzidos para serem bebidos jovens e alguns podemos deixar que envelheçam e ainda terão muita qualidade. Já outros perdem qualidade e vivacidade ao serem guardados por tempo excessivo.  

Vinhos do novo mundo de bom custo-benefício dificilmente viverão por longos anos como os de guarda. Algumas uvas também podem apresentar características de rápida maturação como a cabernet e merlot. Vinhos leves, com exceção dos grandes Pinots “Crus“, também pedem para serem abertos a qualquer momento. Já um Beaujolais Nouveau (feitos com a uva Gamay) deve ser bebido no máximo em até um ano. Estes são feitos todos os anos – e lançados em novembro – para serem consumidos imediatamente. A maioria dos vinhos tintos brasileiros está prontos para ser consumidos. Os básicos italianos Chiantis e Valpolicellas também podem ser bebidos jovens. 

Vinho branco com peixe, vinho tinto com carne 

Vinho com peixe

Há controvérsias. A harmonização, combinação entre vinho e comida, é um assunto vasto. Nem sempre podemos levar essa máxima ao pé da letra. Claro que um peixe sem muitos condimentos, que seja leve, mais neutro com pouca gordura casará muito bem com um vinho branco jovem. Mas se o peixe for feito com algum tempero ou molho marcante, podemos harmonizar com um tinto leve. Um atum, salmão e alguns preparos de bacalhau, por exemplo, podem ser combinados sim com um bom Pinot Noir. Já uma vitela grelhada ou filé mignon na manteiga vão muito bem com um branco amadeirado. 

Queijos? Sempre escutamos que vão muito bem com os tintos, mas, em sua maioria, casam melhor com os brancos. Harmonização é o assunto mais divertido do mundo do vinho, pois o exercício prático nos dá a melhor resposta. Só precisamos de bom senso.  

Vinho tinto combina com inverno e vinhos branco e rosé devem ser consumidos no verão 

Não chega a ser mito, mas sim uma preferência e hábito. Considerando que o tinto tem tanino, acidez e graduação alcoólica média de 12,5%, é convidativo para o clima frio e acompanhado de comidas quentes. Mas temos pinot e gamay que são uvas que fazem vinhos leves que combinam perfeitamente com o calor, até porque esses geralmente resfriamos mais (os franceses consomem estes levemente resfriados de 9 a 11ºC).  

No verão, geralmente buscamos frescor. A acidez nos dá a sensação refrescante. Os brancos possuem alta acidez. Os espumantes possuem acidez e carbonatação que conferem picância na língua com as borbulhas, isso limpa o paladar e refresca a boca para o alimento. 

Vinho faz bem para a saúde 

Sim e não. Se for bebido regularmente, junto com as refeições, com moderação e por quem não tem contraindicação à ingestão de bebidas alcoólicas, pode ser benéfico à saúde. Os polifenóis encontrados na casca e na semente da uva possuem ação antibiótica, efeito antioxidante e ajudam a prevenir a formação de placas de gordura nas artérias. Dizem os médicos que o vinho tinto reduz o colesterol ruim (LDL) e aumenta o chamado colesterol bom (HDL) devido ao resveratrol e aos flavonóides. O único problema do vinho é o álcool, pois quando ingerido em alta quantidade torna-se tóxico principalmente para o fígado, cérebro e coração. Seu alto consumo também pode gerar o alcoolismo. Por isso, evite o exagero e sempre combine com água. Assim, você evita que o corpo se desidrate durante o consumo.  

Esses foram alguns dos principais mitos que mais ouvimos e que continuam no imaginário dos consumidores, amantes e conhecedores de vinho. São numerosos e possuem muitas versões. “Mas, cá entre nós, existe coisa mais divertida do que alimentar lendas deste tipo e construir histórias sobre o incrível mundo dos vinhos? Reza a lenda que quem bebe vinho todo dia antes de dormir emagrece”, brinca a sommelier Patrícia. 

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